No mesmo dia em que no Havai se comemoravam os 40 anos do ironman, a muitos kms de distância, na cidade do Porto realizava-se a segunda edição do Spirit of 78 Triathlon, também nessa distância mítica e este ano, também, para comemorar essa efeméride.
Tudo começou em 1978 em Kona, no Havai. Alguns militares estacionados numa base resolvem juntar-se e realizar aquele que seria o primeiro Ironman, nadaram 3,8km, pedalaram 180km e no final correram 42km. Foi precisamente há 40 anos que se iniciou a competição que marca o imaginário e alimenta os sonhos de atletas por esse mundo fora.
No ano de 2016, um grupo de triatletas do Porto, de regresso de uma prova, começam a cozinhar a ideia de realizar uma prova nesta mítica distância na cidade. Desta ideia acabou por nascer, a 7 de outubro de 2017 o Spirit of 78 Triathlon, um evento que pretende homenagear os 12 atletas que terminaram o primeiro Ironman. Tal como em 1978, foram 15 os atletas que marcaram presença na linha de partida, mas ao contrário do que aconteceu na primeira edição, apenas 10 conseguiram terminar.
No passado sábado,13 de outubro, foram 33 os atletas que aceitaram o desafio e apresentaram-se bem antes do nascer do sol, na margem direita do rio Douro, para iniciar uma aventura que duraria todo o dia.
A ideia dos organizadores do evento era tornar a experiência o mais próxima possível da primeira prova, o resultado, foi ver a maioria dos atletas a tentar replicar o melhor possível o aspeto dos triatletas de 78, com bigodes farfalhudos, vestidos de sungas e tops e alguns deles a aparecerem com bicicletas de aço, algumas com mais de 30 anos.
Com os primeiros raios de sol, os atletas lançam-se à água para um percurso em linha até à saída da água. O mais rápido neste segmento, seria um grande triatleta bem conhecido dos triatlos longos, o Paulo Adão Coelho, que não deu hipóteses à concorrência.
O segmento de ciclismo realizou-se num percurso de 30 km, que os atletas tiveram de fazer 6 vezes. Na única zona do abastecimento já se fazia notar uma grande festa, entre assistentes, voluntários, familiares e curiosos. Na frente, a luta foi sempre bastante renhida com a liderança a alternar constantemente.
Na corrida, que também foi feita em 6 voltas, num circuito de 7km, a história foi outra, o Pedro Reis, atleta que começou a prova a defender o título conquistado em 2017, bem cedo assumiu a liderança e nunca mais a largou, tendo acabado a prova a 30 minutos do Rui Pedro, o segundo classificado. O terceiro classificado foi o Carlos Gomes Ferreira 3 minutos depois.
Nas mulheres, das 4 que iniciaram a natação, apenas a Margarida Cunha Reis, que se estreou na distância, teve garra para completar a prova e se tornar na primeira campeã do Spirit of 78 Triathlon.
Mas o que faz o Spirit o que é, para além dos campeões, são as pequenas histórias de superação, é a amizade e a entreajuda entre os atletas. São os que fizeram a sua estreia na distância. São os que fizeram o ciclismo em bicicletas antigas, muito mais exigentes que as suas bicicletas habituais, fazendo com que a corrida seja muito mais sofrida. São os que fizeram o ciclismo de sunga, sem carneira, o que para 180km se pode tornar bastante desconfortável. É o atleta que fez um Ironman uma semana antes, e que inicia o Spirit apenas para entrar no espirito e dar o ar da sua graça, deixa-se levar pelo entusiasmo e conclui a prova. São os 3 atletas que para concluir a prova, são obrigados a fazer os últimos 20 kms já de noite, sozinhos, debaixo de chuva e muito vento.
No meio da pequena multidão que iniciou o desafio, há uma história especial, a do único estrangeiro presente, um Belga, um triatleta experiente, com alguns Ironman feitos. Entre o inicio da sua preparação e o dia 13, é-lhe diagnosticado um cancro, que o levou a uma operação complicada dias depois. Tendo corrido bem, obrigou-o efetuar todo o seu treino simultaneamente com as sessões de quimioterapia. Chega naturalmente bastante debilitado ao Porto, mas apresenta-se com o seu melhor sorriso na entrada da água. A natação corre-lhe mal, com algumas dores num dos braços, acabando por ser o último a sair da água. Aguenta o ciclismo, na corrida volta a sentir os efeitos da quimioterapia e faz parte da corrida praticamente a caminhar. Mal passou a meta foi descansar bastante debilitado. No dia seguinte já estava recuperado, mas bastante sensibilizado com a forma com que foi recebido pelos outros atletas. A luta do cancro está praticamente ultrapassada, tendo prometido regressar em 2019, desta vez para lutar pelos primeiros lugares.
Dos 33 que iniciaram a prova, foram 28 os que cruzaram a linha de meta. Desde o Pedro Reis, que terminou em 10h03, renovando o título e tornando-se o bicampeão do Spirit of 78 Triathlon e que voltou a homenagear o grande triatleta português que é o Lino Barruncho, até ao Manuel Faro, que acabou já bem de noite, debaixo de uma grande tempestade, que, entretanto, se instalou.
Tal como os atletas do ano passado, todos os que finalizaram a prova este ano, vão ter reservado para eles o número do dorsal com que fizeram a prova, o atleta que homenagearam e a possibilidade de estar na linha de partida, em edições futuras, sempre que o desejarem.
Mas o Spirit of 78 Triathlon foi muito mais além da parte desportiva, foram centenas de pessoas, entre assistentes, familiares, amigos, triatletas e atletas de outras modalidades e curiosos, muitos curiosos, que estiveram durante todo o dia pelos percursos da prova. Mais uma vez, foi feita uma grande festa do desporto e do triatlo. Com muita amizade, entreajuda e um desportivismo que já é difícil de observar em outros eventos desportivos.
Classificação final do Spirit of 78 Triathlon - Edição especial dos 40 anos:
Femininos:
1ª - 13h35 - Margarida Reis - Daniela Ryf
Masculinos:
1º - 10h03 - Pedro Reis - Lino Barruncho
2º - 10h32 - Rui Pedro - Thomas Hellriegel
3º - 10h35 - Carlos Ferreira - John Howard
4º - 10h43 - Miguel Lobão - Sergio Marques
5º - 10h47 - Tiago Amaral - Tom Warren
6º - 10h56 - Nuno Maia - Rich Roll
7º - 11h19 - Rui Amorim - Ian D. Emberson
8º - 11h23 - Sérgio Suzano - Emanuel Matos
9º - 11h34 - Paulo Costa - Dave Scott
10º - 11h35 - Pedro Conceição - Harold Irving
11º - 11h41 - Paulo Perreira - Frank Day
12º - 11h42 - Paulo Marques - John MacLean
13º - 11h49 - Peter Lissens - Garth Prowd
14º - 11h57 - Carlos Canito - José Massuça
15º - 12h17 - Fernando Ferreira - Craig Alexander
16º - 12h30 - Emanuel Matos - Peter Reid
17º - 12h38 - José Silva - Henry Forrest
18º - 12h48 - Rui Pena - Dan Hendrikson
19º - 12h50 - Paulo Adão - Luc Van Lierde
20º - 12h53 - Marco silva - Tom Knoll
21º - 13h13 - Miguel Vieira - Mark Allen
22º - 13h19 - Pedro Leiria - John Collins
23º - 13h21 - José Canela - Scott Tinley
24º - 13h30 - Paulo Pereira - Tim DeBoom
25º - 14h18 - António Silva - Lionel Sanders
26º - 14h19 - Luís Caldeira - Ricardo Costa
27º - 15h22 - Manuel Faro - Gordon Haller