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Spirit of 78 Triathlon

Chegamos ainda de noite, havia uma leve névoa no ar, a água estava calma, um verdadeiro espelho de água, só se notava alguma corrente na inclinação das boias de sinalização, no ar sentia-se o nervosismo que pairava sobre os que iam chegando, este era mais notório entre os atletas, mas também entre os que estavam lá para os ajudar.

É preciso recuar mais de 40 anos para percebermos como tudo começou. Estava-se no Havai, em 1978, um grupo de 15 militares aí estacionados, incentivados por John Collins, que lhes lançou o desafio de juntar numa única prova as três competições mais duras daquele arquipélago: a Waikiki Rough Water Swim, onde os atletas têm de nadar 3.8km; a volta à ilha em bicicleta, percorrendo 180km; e a maratona de Honolulu, com 42,195 km. Dos 15 atletas que a 18 de fevereiro de 1978 se lançaram às águas do Pacífico, apenas 12 concluíram os 226km do desafio. Gordon Haller, um veterano da marinha americana, fica para a história do triatlo como o primeiro vencedor de um Ironman.

Alguns anos mais tarde, um grupo de triatletas do Porto, de regresso de uma prova, começam a cozinhar a ideia de realizar uma prova nesta mítica distância na cidade. Desta ideia acabou por nascer, a 7 de outubro de 2017 o Spirit of 78 Triathlon, um evento que pretende homenagear esses 12 pioneiros.

A ideia inicial teve como base proporcionar a experiência de uma prova na distância Ironman, sem os custos elevados que a grande maioria das provas desta distância têm. De forma a homenagear os heróis de 78, os atletas são incentivados a realizar a prova nas condições o mais próximas possível da primeira prova, isto incluí a utilização de bicicletas de aço, com os seletores das mudanças no quadro, usarem os equipamentos da altura, nomeadamente calção de natação curto, também chamado de sunga e top caveado. Mas o mais importante é ter os atletas na linha departida com bigodes, suíças ou barbas semelhantes às usadas nos anos 70.

A participação no Spirit of 78 Triathlon está limitada a um número restrito de atletas, que são escolhidos por sorteio, entre todos os que se mostraram interessados em participar. Sendo um dos objetivos iniciais da prova homenagear os heróis do primeiro Ironman, a cada atleta é sorteado um número de dorsal e o nome de um atleta que se tenha destacado na distância ao longo dos últimos 41 anos.

Regressando à atualidade, no mesmo dia em que muitos tinham os olhos postos no Havai, na final do campeonato do mundo de Ironman e viam o Sérgio Marques a sagrar-se campeão mundial do AG 35-39, muitos outros tinham os olhos postos na cidade do Porto e nos 41 atletas que iniciaram a terceira edição do Spirit of 78 Triathlon.

O mais longo dia do ano, por estas bandas, contou com a presença de um grupo muito variado de atletas, onde se contavam 2 mulheres, 5 atletas totalistas da prova, os dois campeões em título, a Margarida Reis e o Pedro Reis, um dos grandes nomes do triatlo de longa distância em Portugal, o Rafael Gomes, e muitos outros que dedicaram muitas horas a prepararem-se para esta aventura. E lá está, a grande maioria dos atletas apareceu vestidos a rigor.

Por uma questão prática, a prova foi desenhada de forma a que exista um único ponto de abastecimento, isto, para que os voluntários e assistentes dos atletas não fiquem dispersos e separados uns dos outros, tornando a tarefa de assistência bem mais difícil. Desde a primeira edição que se verificou que foi uma aposta ganha, o epicentro do evento torna-se uma festa, com música, muita animação e com centenas de pessoas prontas a ajudar os atletas sempre que por lá passam, quer seja com os seus abastecimentos, quer seja com as palavras de incentivo, que ajudam a tornar uma prova destas distâncias bem menos sofrida.

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Paulo Costa
Spirit of 78 Triathlon

A natação, feita no rio Douro, teve os habituais 4,2 km, que, sendo um pouco mais que os 3,8 km originais, esse extra acaba por ser compensado com alguma corrente que se faz sentir, embora este ano não fosse tão forte como nos anos anteriores. Aqui a prova desvia um pouco do original, pois obriga à utilização de fatos de neoprene, por uma questão de segurança, temos de perceber que as águas não são propriamente as do Havai.

O segmento de ciclismo realiza-se num percurso de 30 km ao longo da estrada de serpenteia o rio, percurso esse que os atletas têm de percorrer por 6 vezes, tendo por isso 6 passagens na zona de abastecimento que se encontra junto a um dos retornos.

A corrida foi idealizada num percurso de 7 kms, contanto por isso também com 6 voltas. Mas ao contrário do ciclismo onde o abastecimento é feito num dos extremos, na corrida este fica exatamente a meio, permitindo que os atletas possam alimentar-se a cada 3,5 kms. A parte da corrida que segue em direção ao interior é feita num passadiço situado mesmo por cima do rio douro. Para o lado oposto a corrida é feita no largo passeio até próximo da centenária ponte Maria Pia.

Toda a prova está alinhada com os primórdios do Ironman, pela já mencionada indumentária, pelas bicicletas, pela assistência e alimentação da responsabilidade de cada atleta, até à cronometragem, que é feita toda à mão, mas que não deixa nada a desejar da cronometragem moderna.

O dia começou bem cedo, e ainda o sol se escondia por detrás dos montes, já os atletas se tinham teletransportado para 1978 e estavam todos alinhados para mais uma aventura pelo rio Douro e pelas suas margens.

O primeiro a sair da água foi o Paulo Esteves Pereira, tendo-se mantido pouco tempo na frente da prova, pois o Rafael Gomes quis desde cedo mostrar porque é que se tinha deslocado ao Porto e mal conquistou o primeiro lugar, não mais o largou. De notar que se apresentou vestido a rigor, tendo trazido a bicicleta com que nos anos 90 se sagrou campeão nacional de juniores, tendo batido o record do Spirit of 78 Triathlon com o tempo de 9:54:40. O segundo foi o Valter Nogueira, que cedo conquistou a segunda posição e que deu o máximo para se tentar aproximar do primeiro lugar. O lugar mais disputado e que teve mais donos ao longo de toda a prova, foi o terceiro, com o João Sousa a conseguir chegar até ele já no segmento da corrida. O João acabou por levar a sua participação no Spirit um bocadinho mais longe do que todos os outros atletas, além da bicicleta de aço, calção curto e top, usou um capacete da época e na alimentação decidiu abdicar de barras, géis e isotónicos, tendo-se mantido em prova apenas com alimentação baseada em sandes, bolachas, marmelada, bananas, coca-cola, água a chocolate.

Nas mulheres, a grande campeã foi a Margarida Bleck Cunha Reis que revalidou o título e se juntou ao Pedro Reis como bicampeões do Spirit of 78 Triathlon. Em segundo lugar ficou a Carmen Santos Lima, que há poucos meses pouco sabia de triatlo e que com uma resiliência muito grande, terminou a prova com um grande sorriso nos lábios.

A cereja no topo do bolo estava guardada para o fim, à medida que os atletas chegavam ao fim, era-lhes entregue um troféu, troféu esse que é uma réplica do trofeu entregue aos finishers da primeira edição do Ironman. Este trofeu existe por iniciativa de um atleta presente na edição do ano passado, o Pedro Conceição, quando se propôs a fazer para todos os que acabassem a referida réplica. Este ano regressou para fazer de novo a prova e na sua mala voltou a trazer a pequena estatueta. Passará a ser no futuro o prémio para todos os que se dedicarem e conseguirem acabar o Spirit of 78 Triathlon.

Neste dia de outono, viveu-se o verdadeiro espirito da primeira edição do Ironman, a descontração, o convívio, a entreajuda e a camaradagem, que apesar de tornarem a prova mais relaxada, não deixou que a parte competitiva fosse descurada. Era ver os atletas mais atrasados a sorrir e a apoiar os outros com quem se iam cruzando, como se estivessem no primeiro lugar. No final as caras de quem ia cortando a meta mostravam sorrisos rasgados de orelha a orelha. O sentimento geral era de que para 2020 estariam todos de novo na linha de partida.

Mais do que uma prova, é uma família!

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Inscrições Encerradas

As inscrições para a Sétima edição do Spirit of 78 Triathlon estão encerradas.
Vemo-nos a 14 de Outubro para mais um dia memorável.

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