Como já tem se tem tornado hábito, o início de outubro traz à cidade do Porto muitos triatletas para homenagear os que em 1978 se juntaram a John Collins para realizar uma prova de triatlo que juntou as 3 principais provas de Honolulu, a “The Waikiki Rothwater Swim”, com 3,8km de extensão, a “The Around-Oahu Bike Race”, que dava a volta à ilha com o perímetro de 180km e que terminou com a realização do percurso da Maratona de Honolulu.
Este ano não foi diferente, às 7 e pouco da manhã do dia 3 de outubro, 38 atletas aguardavam ansiosos dentro das águas do Douro pelo início de mais uma aventura, representando 4 nacionalidades entre portugueses, espanhóis, brasileiros e um russo, muitos deles vestidos a rigor, com fartos bigodes, sunga, tops e algumas bicicletas da altura, de aço com as mudanças no quadro, uma das imagens de marca do Spirit of 78 Triathlon.
Mas este ano o que esperava os atletas seria um pouco diferente do habitual. A confusão que se instalou em 2020 com a pandemia provocada pelo Covid-19, obrigou a mudanças muito grandes nos nossos hábitos e o Spirit of 78 Triathlon não foi exceção. O Spirit of 78 Triathlon não é apenas uma prova de triatlo, é muito mais do que isso, desde o primeiro minuto que o mais importante tem sido a festa que sempre se fez à volta da prova. Este ano a organização teve de tomar a difícil decisão de cancelar esta segunda parte.
Para evitar aglomerados e multidões os atletas tiveram de abdicar dos seus assistentes na altura dos abastecimentos e tiveram de fazer a prova em total autonomia, não puderam ter a ajuda de ninguém. O número de pessoas foi reduzido ao minimo, com apenas alguns voluntários a garantir que tudo correria pelo melhor.
Já na sua quarta edição, o Spirit of 78 Triathlon tinha tudo para dar mais um passo grande para o seu reconhecimento, o número de inscritos chegou à centena, com o número de estrangeiros a atingir um quarto dos atletas. Com o agravar da situação nos últimos tempos, com as limitações e necessidade de quarentena impostas por alguns países, levou a que os atletas estrangeiros fossem obrigados a desistir. Os receios, associados à situação, levou a que muitos outros também o fizessem.
O dia começou bem frio com temperaturas abaixo dos 10 graus. Os primeiros atletas a chegar ainda de madrugada ao local central da prova junto ao Museu da Imprensa, tinham marcado nas suas caras a preocupação com o frio que se iria fazer e a chuva que estava prevista para as primeiras horas de prova.
Ainda era de noite quando foi efetuado o último briefing com as indicações de segurança para o segmento da natação, os atletas estavam ansiosos por entrar na água. Mesmo com os fatos de neopreno vestidos sentia-se o frio a tentar chegar aos ossos. Na água estava-se bem melhor e a temperatura a rondar os 18 graus acabou por trazer alguma calma e ânimo aos atletas. Na espera pelos primeiros raios de sol começou a instalar-se uma ligeira neblina à tona da água, no céu via-se a lua cheia e brilhante que refletia nas águas calmas do Douro, o cenário estava montado é às 7h19 a prova iniciou.
A Natação feita a favor da corrente acaba por ser facilitada, embora seja necessário fazer uma boa navegação, as correntes não têm a mesma intensidade em toda a largura do rio e nadar fora da zona onde a corrente é mais forte pode fazer a diferença no tempo à saída da água.
Desde o início que a natação foi liderada pelo Filipe Baptista do SC Espinho, tendo os 3 primeiros atletas saído da água com 20 segundos de diferença entre cada um, tendo o Bruno Pinto do Paredes Aventura sido o segundo e o Manuel Menéres dos Cães D’avenida o terceiro. Nas mulheres a Maria Andia do Clube de Triatlo de Viseu, foi a primeira a sair da água em 4 lugar da geral, saindo a Laísa Diana do Clube Marvila Oriental Triatlo em segundo e a Carmen Lima do Boavista em terceiro.
O ciclismo é feito num circuito de 30 km que os atletas têm de percorrer 6 vezes. Não é um percurso nada fácil, pois não tendo nenhuma grande subida, tem várias subidas curtas que, de volta para volta se vão acumulando nas pernas. No final os atletas acabam com um acumulado de subida a passar os 1000 metros. Para dificultar, a temperatura durante as primeiras 2 voltas rondou os 10 graus e a chuva que acabou por cair nessa altura fez os seus estragos, tendo um atleta desistido com princípios de hipotermia. O vento também não ajudou e foi uma constante, tendo ficado mais forte à medida que as horas foram passando.
Na frente da prova, logo na primeira volta os atletas dos dois primeiros lugares inverteram as posições, e pouco atrás o Tiago Amaral do Paredes Aventura passou a ocupar o terceiro lugar. Aos poucos os dois primeiros começam a quebrar e o Nuno Abreu do Clube Zupper que manteve um ciclismo muito consistente começa a aproximar-se, passando para a frente na 4 volta, não tendo mais largado esta posição. Na transição para a corrida vieram pouco depois o António Salgado do SC Espinho e o Bruno Pinto. Nas mulheres não houve alterações na classificação, a Maria Andia foi muito consistente e a distância que separava as atletas foi aumentando.
A corrida é feita igualmente em 6 voltas com 7 km cada, existindo um único ponto de abastecimento a meio, desta forma os atletas conseguem abastecer a cada 3,5 km. No sentido em direção à nascente do Douro, o percurso tem algumas pequenas inclinações enquanto que para o lado da Ribeira do Porto é completamente plano, tornando o trajeto bastante rápido.
Assim que o Nuno Abreu iniciou a corrida, deu para perceber que só se algum percalço acontecesse é que a vitória lhe fugiria, tendo em conta as distâncias envolvidas poderia facilmente acontecer. A disputa ficou mesmo entre os restantes lugares do pódio com o António Salgado e o Bruno Pinto a assumi-los no início da corrida. Na quarta volta o António acabou por quebrar e foi ultrapassado pelo Bruno. Nas mulheres apesar de alguma quebra por parte da Maria no início da corrida, as posições mantiveram-se sem qualquer alteração.
O campeão deste ano foi o Nuno Abreu, com um fantástico tempo de 9h34, batendo por 20 minutos o antigo recorde do Spirit of 78 Triathlon, que pertencia desde o ano passado a Rafael Gomes. O segundo classificado foi o Bruno Pinto com 10h08 e o António Salgado acabou em terceiro com 10h38.
A campeã foi a Maria Andia, também batendo o recorde do Spirit of 78 Triathlon, pertença da Margarida Reis, com o tempo de 12h04. A segunda classificada foi a Laísa Diana com 13h50 e a terceira a Carmen Lima com 14h42.
No final o saldo foi muito positivo. Apesar da limitação do número de pessoas na zona de abastecimento, os amigos, familiares e publico cumpriram o pedido da organização e com o distanciamento necessário acabaram por fazer a festa ainda que distribuídos pelos percursos da prova.
Foram 34 os atletas que levaram para casa a réplica do primeiro trofeu oferecido aos que completaram a primeira prova em 1978, a face visível da experiência que tiveram durante o Spirit of 78 Triathlon, uma experiência que jamais esquecerão.
Para 2021, se a situação normalizar, o Spirit of 78 Triathlon vai regressar para a sua quinta edição, e para compensar as limitações deste ano, com uma festa ainda maior que ninguém irá esquecer.