E se, quase quarenta anos depois, um grupo de atletas decidisse fazer uma homenagem à primeira edição do Ironman, que se realizou a 18 de fevereiro de 1978 no Havai. Foi isso que aconteceu no passado dia 7 de outubro, na cidade do Porto.
Tudo começou cerca de um ano antes, quando um grupo de atletas da equipa regressava a casa, de comboio, acabadinhos de fazer o Iberman. Provavelmente ainda seriam as endorfinas, serotonina e a dopamina, a falar, mas nessa viagem foram lançados os alicerces da prova que acabou por acontecer a 7 de outubro.
A ideia inicial teve como base proporcionar a experiência da realização de uma prova na distância Ironman (3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida), sem os custos elevados que a grande maioria das provas desta distância têm. Os empreendedores da ideia quiseram também homenagear os primeiros atletas a realizar a distância, em 1978, no Havai.
De maneira a que se conseguisse cativar a presença do maior número de atletas possível e para que a prova pudesse homenagear os heróis de 78, os atletas teriam de se apresentar na linha de partida com um “look” dos anos 70, como quem diz, o bigode, suíças ou barba seriam obrigatórios, quem quisesse ir mais longe tinha a opção de ir de calção curto, a chamada sunga, e top caveado.
Para que se conseguisse controlar bem todas as variáveis envolvidas, como a segurança, assistência, a própria competição, além de evitar que os custos escalassem, ficou decidido que as inscrições nesta primeira edição se limitariam a atletas da equipa.
A prova decorreu em circuito, com 6 voltas de 30km no ciclismo e 6 voltas de 7 km na corrida. Assim apenas foi necessário um único ponto de abastecimento, o que evitou dispersar todos os que quiseram estar presentes a ajudar. A melhor zona encontrada foi o Freixo e a estrada marginal do Douro, sendo o ponto centrar da prova a entrada para o Museu da Imprensa. A natação acabou por ter, não os habituais 3,8km, mas 4,2km, isto por falta de ponto de entrada na água.
Em termos competitivos, todos os atletas tiveram de registar a sua prova num relógio com GPS, de forma a que no final se pudesse validar os seus tempos, o diretor da prova controlou os tempos de partida, passagens e chegada dos atletas e nos percursos quer do ciclismo como da corrida a organização colocou juízes a fiscalizar. Os juízes tiveram também um papel muito importante na segurança, pois as estradas não estavam cortadas ao transito. O draftig, não foi permitido, quer fosse entre atletas da prova, quer fosse com outros ciclistas que pudessem estar a treinar.
No que respeita à segurança, na água estiveram, um barco e 6 kayaks a fazer o acompanhamento dos atletas. Para o percurso de corrida, os atletas tiveram de ter disponível um frontal nos seus cestos, para ser utilizado mal o sol se pusesse, pois, a existência de um bocado do percurso, com cerca de 300m em terra e sem luz assim obrigava.
Cada atleta foi responsável por preparar a sua alimentação e bebida, que teve de estar num cesto acessível sempre que o atleta passasse. Cada atleta teve a ajuda de um assistente, que lhe forneceu os bidons e a alimentação no ciclismo e na corrida. Neste ponto central do evento, tivemos pessoas responsáveis pela animação, de forma a que incentivar não só os atletas, mas acima de tudo os assistentes. Acabamos por ter mais de 100 pessoas, entre atletas da equipa, familiares e amigos a ajudar.
Mas a preparação desta prova iniciou-se muito antes, recuando um pouco no tempo, em finais de junho, estavam inscritos 20 atletas. Nessa altura foi feito um sorteio para a atribuição dos dorsais. A cada número de dorsal foi associado um atleta, com provas dadas na distância. Os primeiros 12 números foram ocupados pelos finishers da primeira edição do Ironman, para os restantes escolhemos nomes de atletas estrangeiros e Portugueses. Em agosto juntaram-se à lista de inscritos mais dois atletas.
Nos meses que antecederam a prova, quem passasse pela marginal do Douro ao fim de semana iria deparar-se com grupos de atletas da equipa a treinar nos percursos da prova.
Devido a alguns acidentes e problemas pessoais, a start list acabou por ficar reduzida a 15 atletas, o mesmo número que alinhou em 1978:
2 - John Dumbar - Rui Pinto
3 - Dave Orlowski - Diogo Madeira
5 - Sterling F. Lewis - Pedro Magalhães
6 - Tom Knoll - Daniel Bettencourt
7 - Henrry Forrest - José Silva
11 - Dan Hendrikson - Rui Pena
13 - Jan Frodeno - Valter Nogueira
14 - Craig Alexander - Fernando Ferreira
15 - Mark Allen - Miguel Vieira
16 - Dave Scott - Paulo Costa
18 - Lino Barruncho - Pedro Reis
19 - Sérgio Marques - Miguel Lobão
20 - Faris Al Sultain - Rui Amorim
21 - Emanuel Marques - António Gavina
22 - Ricardo Costa - Nuno Abreu
Com os primeiros raios de sol é dada a partida para a natação, onde alguma corrente acabou por ajudar os atletas. O primeiro a sair da água foi o Paulo Costa, que liderou a prova até à 2 volta de ciclismo, tendo sido passado por Diogo Madeira, atleta que acabou por desistir a meio deste segmento, tendo a liderança voltado ao Paulo Costa.
Nesta altura as temperaturas já andavam acima dos 30 graus, muito elevadas para a época e muito diferentes das que se fizeram sentir nas semanas anteriores à prova. Tendo sido a temperatura o principal inimigo dos atletas.
A meio da 5 volta do ciclismo, a liderança da prova é trocada, passando alternadamente para o Pedro Reis e o Pedro Magalhães, atletas que estavam a andar com ritmos semelhantes.
Com a passagem para a corrida, o Nuno Abreu assume rapidamente a liderança e impõe um ritmo muito forte, deixando para trás toda a concorrência, até que pouco depois dos 21kms acaba por desistir. A frente da corrida passa para o Pedro Reis, atleta que não a deixou mais fugir, sagrando-se o campeão do Spirit of 78 Triathlon. No segundo lugar ficou o Pedro Magalhães, que, vendo-se ameaçado pelo Paulo Costa, segurou muito bem o lugar durante a última volta, tendo este último de se contentar com o terceiro lugar do pódio. Com tempos de chegada separados por 5 minutos entre cada um, acabou por ser uma prova muito disputada.
1º - Pedro Reis (Lino Barruncho) - 10h 44m 55s
2º - Pedro Magalhães (Sterling F. Lewis) - 10h 49m 50s
3º - Paulo Costa (Dave Scott) - 10h 55m 46s
No final acabaram por cortar a meta 10 atletas, com o último a acabar a prova com o cronómetro a aproximar-se das 14 horas.
Acabou por ser muito mais do que uma prova de triatlo, foi uma grande festa entre todos os atletas, familiares, amigos e pessoas que acabaram por ser atraídas ao local. Foi um dia em cheio, das 6:30 até à hora em que acabaram de sair do local, já perto das 23h.
De referir, que apesar de se ter ponderado atribuir medalhas aos primeiros classificados, acabou por se decidir entregar apenas uma coroa de louros a cada um, à semelhança do que aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1978, no Havai.
Classificação Final:
1º - Pedro Reis (Lino Barruncho) - 10h 44m 55s
2º - Pedro Magalhães (Sterling F. Lewis) - 10h 49m 50s
3º - Paulo Costa (Dave Scott) - 10h 55m 46s
4º - Miguel Lobão (Sérgio Marques) – 11h 29m 30s
5º - Rui Pena (Dan Hendrikson) – 11h 38m 15s
6º -José Silva (Henrry Forrest) – 12h 52m 40s
7º - António Gavina (Emanuel Marques) – 13h 09m 15s
8º - Rui Pinto (John Dumbar) – 13h 12m 25s
9º - Fernando Ferreira (Craig Alexander) – 13h 14m 14s
10º - Miguel Vieira (Mark Allen) – 13h 45m 25s